quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Morte por CAPES?!?!!! #in

Há alguns dias recebi um e-mail que é um bom exemplo de BUZZ cujo alcance é restrito - categorizado como de alcance local em Recuero (2008, p.128). O artigo acima pode ser visto aqui. Trata-se de uma queixa crescente no meio acadêmico cujo propósito para alguns é (i) flexibilizar a abordagem metodológica predominante - quantitativista, para outros é (ii) evidenciar a necessidade de ajuste nas métricas de avaliação da CAPES para um balanço otimizado entre qualidade dos trabalhos e quantidade de trabalhos submetidos a periódicos nacionais e internacionais, e para outros tantos ainda  (iii) uma certa combinação dos dois anteriores.
Claro que o teor de uma resposta, qualquer que seja ela, tem efeito proporcional a posição ocupada na rede. Do ponto de vista profissional, sou apenas um aspirante ao mundo acadêmico. Não poderia haver posição mais periférica que esta. Além disso, o programa que adotei como portal para introduzir-me neste mundo, ele em si já ocupa posição periférica, ou seja, pouca chance de que a voz (ou MEME, ou BUZZ) se propague com a intensidade necessário para uma real transformação. No entanto, estamos falando da internet, onde a visibilidade é mera questão de ter um perfil ativo e estar publicando algo. E reputação é uma questão de consistência entre o que um se divulga e o que socialmente é conferido a este um - Capital Social.

Então, minha reação foi a seguinte:

"Engraçado! Quando lia o artigo, tive a impressão de já ter lido antes. Enfim, busquei sem pretensão alguma e lá estava na RAC de jan/abr 1999 – para acesso ao arquivo clic ao acima. O artigo em epígrafe é de outubro de 2010. Com certeza foi elaborado no(s) ano(s) anterior(es), e o teor crítico é o mesmo. Naquilo que se pode comparar. Dez anos se passaram entre as duas manifestações, e algo parece ter piorado. Claro que os critérios da CAPES são imperfeitos, mas culpar um 'outro' pelo que nos falta é que parece ter piorado. Lá, em 1999, o que faltava eram critérios de avaliação, e cá, em 2010, são os critérios de avaliação. Pergunto-me, o único critério de governança é o regulatório? Não, existem outros dois - o profissional e o cultural. O problema na verdade está escondido nas entrelinhas, expresso no hábito de falar pela voz de outro, que é importante, mas que tem sido 'cultuado'  como a unica forma de adquirir credibilidade. Está no processo metodológico como um fim e não como um meio. Está no trabalho solitário, enquanto o mundo atual exalta a colaboração. O problema está em ser seguidor.

O mundo acadêmico é uma vítima de si mesmo, de um desejo de ser visto ecologicamente. Cérebros? Pra que? Olhe ai fora e veja quem dá certo e por que. Se todos são submetidos a um órgão regulador que dita às regras, sigamos as regras. Mas vejam que é a própria comunidade acadêmica que presta consultoria para a CAPES através do CTC-ES e seus colegiados e comissões de área. A comunidade acadêmica está bem acomodada no centro de quem dita as regras e a própria comunidade acadêmica dá legitimidade aos critérios de avaliação e Planos Nacionais de Pós-Graduação.

O direito a voz é algo que não se encontra na produção nacional, e me pergunto se de fato é oprimida pelos critérios de avaliação ou oprimida pelos critérios de seleção de acadêmicos e de trabalhos acadêmicos realizado pela própria comunidade. O problema não está no critério de avaliação, mas sim nos critérios de seleção - basicamente normativo e cultural/cognitivo. O isomorfismo começa na seleção, pois os insubordinados devem ser reprovados ou aquiescer ao 'padrão' do trabalho solitário, da metodologia como fim e da voz de pelo menos outros 'três' - mas nunca a sua.

Se estudarmos os PNPGs publicados até hoje, veremos que a CAPES regula indicando aonde se quer chegar. Tudo o mais é tarefa da própria comunidade acadêmica, e investir em produção de qualidade está explícito. E como isto seria feito? Associar os tais 'pontinhos' ao mérito do esforço? Bobagem. Se tiver de ser feito, simplesmente deve ser feito. A legitimidade deve ser fruto de reconhecimento social e não resultante de um mecanismo coercivo ajustado convenientemente. É o reconhecimento social da capacidade de realização que traz centenas de alunos pagantes, contratos de consultoria, financiamentos etc. Assim a roda gira mais rápido ou menos rápido. Mas para haver reconhecimento é necessário objetivar trabalhos relevantes. Enfim, discutir sobre os 'pontinhos' é o mesmo que varrer pra debaixo do tapete a incapacidade da comunidade acadêmica de se re-inventar e tornar-se relevante socialmente. Perguntem-se, a comunidade acadêmica deve ser tracionada para expandir as fronteiras do conhecimento ou tracionar esta expansão? Deve ser seguidora ou inovadora? A produção se tornará relevante se a comunidade for 'regulatoriamente' induzida a isso? Se há relevância já não teria surgido de modo espontâneo? Os grandes pesquisadores brasileiros, aqueles no topo da cadeia alimentar, passarão a produzir de forma relevante somente por um ajuste nos critérios de avaliação? Não tenho as respostas, mas sinto cheiro forte de que não irão. Quem produz, produz. Não acredito que existam pesquisadores guardando o melhor 'salgadinho para o fim da festa'.

Reitero, algo deve mudar sim, mas está no âmbito profissional e cultural.

matui"

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